F. Carvalho Rodrigues. 2023
Professor Emérito no IADE - UEP Instituto de Arte, Design e Empresa. Membro da Academia de Ciências de Lisboa e da Academia de Marinha, bem como da Sociedade Internacional de Astronáutica e do Centro de Investigação Professor Doutor Joaquim Veríssimo Serrão. Pertence ao Conselho Supremo da Sociedade Histórica de Portugal e é Membro Honorário da Associação Nacional dos Ópticos(ANO), assim como da União Profissional dos Ópticos- Optometristas(UPOOP)
Sócio-Fundador e Presidente da Comissão Consultiva AASO
Fotografia de: Homem Cardoso
Era o primeiro dia: A claridade. A Lux, a luz, apareceu. O Lumen, a radiação luminosa, passou a estar em tudo; com todos. No quinto dia, a Lux gera vida. No sexto o Homo Sapiens habitava a Terra. Era filho do Cosmos, do Lux, da luz e da radiação. A natureza de Filho do Cosmos, levou-o à contemplação. No sétimo dia descansou.
Tudo o que girava à sua volta parecia-lhe ser feito à sua medida; antropomórfico. Parecia ser o centro de tudo. Mas, afinal, só havia Harmonia quando é “centro em todo o lado e periferia em parte nenhuma” *. Com o desenho e uma sua filha, a geometria, conduziu o lumen, até ser lux na sua mente. Nesse dia, viu e construiu a Óptica. E do longínquo, fez perto. O ínfimo, invisível, trouxe-o ao sensorial e inteligível. O difuso ficou nítido. Com a Óptica encantou-se com a Lumina: as luzes, os olhos, as janelas , a glória, a honra, o ornamento, o sublime.
Estava na hora de abolir a escravatura. O Homo Sapiens Sapiens inventou, então, Energia. Calculou, calcula, mediu, mede a energia com o produto da força vezes o seu deslocamento. O peso vezes a distância. Tal qual como se a energia fosse a medida do seu cansaço no percurso que fez! Ainda hoje é assim, completamente, antropomórfica.
Com Óptica e Energia o Homo Sapiens Sapiens sentiu-se o centro do Universo. Depressa foi lembrado que sempre que só há um centro no Universo a harmonia quebra-se.
Nas mudanças, encontrou a Lei mais Universal: junta Energia com Entropia, no segundo Princípio da Termodinâmica. Exprime a regra para a Luz criar Vida e para a entropia servir de rédea que a guia até à morte.
A matemática exprime o segundo princípio com uma inequação. Daí brota a diversidade; uma equação tem um número finito de soluções. Uma inequação, uma infinidade. Faz, então, pouco mais de um século e meio que nos enfrentámos com ser a diversidade a regra e, também, com a entropia, num sistema fechado, crescer sempre. Quanto maior for entropia mais perto da extinção.
E, o Homo Sapiens Sapiens soube então que era; que tinha passado a ser, o Homem Entrópico**.
Só havia um caminho para ser sustentável. Abrir, o sistema para diminuir entropia. Num sistema aberto, a entropia interna até pode decrescer. Quando tal acontece, nessa diminuição está a medida da sustentabilidade. Para a mesma energia, para acção equivalente, muito menos exportação de entropia significa maior sustentaiblidade.
Para fazer uma engenharia detalhada e codificada em capítulos, artigos, paragrafos, alíneas o Homem Entrópico tem que lançar mão de conceitos e métodos que, entretanto, emanaram do segundo princípio.
Um, que se conhece bem desde 1902 é o da “Ajuda Mútua”.
Outro, é operar em rede de Fabricantes, Ópticos, Ópticos-Optometristas, Optometristas, Oftalmologistas, Profissionais de Óptica para recolher o que iria para o lixo, i.e., muita da entropia exportada num sistema fechado, e reutilizá-lo, de todas as formas, até que a entropia que fica seja a mínima.
O terceiro, para o caso do trabalho do Homem Entrópico, com Lux e Lumen, é fazer o Elogio da Sociedade da Amizade apoiando a abertura das fronteiras de um sistema fechado ao ter criado e ao fazer parte da vocação da AASO.
*in Blaise Pascal, Pensées, 1670
**in Vitorino Nemésio, pag. 20, “Era do Átomo, Crise do Homem”, Bertrand, 1976