Artigo de Opinião para a Revista Millioneyes, Fevereiro 2024
Recentemente completei 60 anos da minha inquieta existência mental. De acordo com as coordenadas do marcador da OMS, ganhei o estatuto de idoso, o que me deixou surpreso. Ainda que esteja plenamente convencido de que não articulo repetidamente as mesmas conversas, tais como, “Isto já não é como era!” ou “Antigamente, sim, é que era…”, e que também não prevalece a necessidade de uma soneca diária, naquele sentido, continuarei sempre a ser um idoso. Na minha própria defesa, acrescento, não marco jantares para as seis da tarde e, tão pouco, dedico-me à intensa atividade de contagem do tempo de descontos para a Segurança Social. Certo é que, nada do que possa acrescentar na minha defesa, retira-me daquele alinhamento. Porém, é preciso compreender que esta condição de idoso acumula o valor experimental de uma vida, como o gesto confiante e persistente das mãos esgrimindo as agulhas, levando a linha ao nó e este, à malha do napron. A idade é uma equação de tempo e mestria, capaz de produzir experiência, conduzindo ao saber e compreensão na visão da vida e na tomada de decisão. Apesar de tudo, convém reconhecer que é importante evitar os estereótipos, pois, o conceito de idoso nem sempre pode estar associado às virtudes do saber e da paixão que a experiência da vida acumula. Tal qual como o napron, a intensidade e a convicção do movimento das agulhas produzem o nó, e este, pode ser mais, ou menos resistente, à semelhança da diversidade nos seres humanos.
O progresso civilizacional trouxe consigo novas realidades. A automatização e a IA são vistas como oportunidades para os nato-digitais, mas, para as gerações mais velhas, os ritmos de mudança e transformação nos processos geram ansiedade, disrupção e a perceção de incapacidade. Estes fatores são barreiras silenciosas à manutenção do interesse na vida ativa e à integração no mercado de trabalho dos indivíduos com idades acima dos 60 anos. A incompreensão destes fenómenos, quer do lado das organizações, quer do lado dos trabalhadores, leva à pressão para o abandono antecipado da atividade profissional logo que o recurso às reformas antecipadas o permita. O desperdício do talento e do valor, acima dos 50 anos, acarreta consequências em termos de saúde mental e do sistema de financiamento da Segurança Social.
Esta reflexão exibe as fragilidades do sistema e pretende alertar para a oportunidade que o envelhecimento ativo representa, hoje, no mercado de trabalho. Destaca-se a aplicabilidade da experiência e os benefícios do conhecimento acumulado, um exclusivo da idade, que dificilmente se encontra na população jovem. Ultrapassar o preconceito do Idadismo é um esforço que deverá partir das organizações e dos governos centrais, estabelecendo políticas de inclusão, celebrando a diversidade de valores e experiências em todas as idades, tendo como alvo uma sociedade mais justa.
A AASO, recorrendo ao seu estatuto mediador de boas práticas e promotor da inclusão e equidade, pretende abrir a discussão sobre este tema sensível e inevitável na sociedade e essencial para o funcionamento das empresas a curto prazo.
Rui Motty
Presidente e Sócio-Fundador AASO
Optometrista e CEO Optocentro
Vice-Presidente CCPM