Artigo de Opinião Revista ÓpticaPro, Setembro 2025
António Alves
Diretor-Geral Opticalia Portugal
Nos últimos anos, a sustentabilidade deixou de ser uma opção para se tornar uma responsabilidade partilhada por todos os setores – e a indústria da ótica não é exceção. À medida que os consumidores se tornam mais conscientes do impacto ambiental dos seus hábitos de consumo, cresce também a exigência por soluções mais responsáveis e transparentes. Mas o que significa, na prática, ser sustentável numa ótica? E que desafios enfrentamos enquanto setor? A produção dos produtos óticos envolve processos industriais complexos que utilizam materiais como acetato, metal e plásticos, além de exigirem energia e recursos naturais em várias fases da cadeia de valor. Um dos principais desafios prende-se com o desperdício de materiais e a dificuldade de reciclagem dos componentes, sobretudo devido à combinação de diferentes materiais numa única peça, o que torna a separação e reaproveitamento difíceis. Outro obstáculo está nas embalagens e acessórios, como estojos e panos de limpeza, que muitas vezes são produzidos com plásticos convencionais e embalados em excesso. No retalho, a logística de distribuição, o consumo energético das lojas e até a rotatividade dos produtos também levantam questões ambientais importantes.
Ainda assim, existem caminhos possíveis – e urgentes – para responder a estes desafios. Na nossa empresa, temos vindo a integrar práticas mais sustentáveis, que começaram com a mudança dos sacos plástico para os sacos de papel, no momento da venda; com a introdução de estojos feitos a partir de materiais recicláveis, bem como o lançamento de coleções cápsula produzidas com matérias-primas eco-friendly, como o bambu ou plásticos reciclados. Desde 2022, demos um passo mais estruturante ao iniciar uma colaboração com a Plastic Bank — organização internacional que atua na remoção de resíduos plásticos dos oceanos. Através desta parceria, conseguimos neutralizar o impacto ambiental de cada lente de contacto diária vendida, retirando da natureza o equivalente em plástico que estas geram. Esta ação permite-nos compensar um dos produtos com maior consumo unitário do setor, enquanto apoiamos comunidades vulneráveis envolvidas na recolha e reciclagem.
Estas iniciativas são passos importantes, mas sabemos que o caminho para uma ótica verdadeiramente sustentável exige mais: exige repensar os ciclos de vida dos produtos, apostar na durabilidade, reduzir embalagens, melhorar a eficiência energética das lojas e trabalhar com fornecedores alinhados com os mesmos valores. Este é o grande desafio! O design circular – em que se pensa o produto desde o início para poder ser reutilizado ou reciclado no fim da sua vida útil – é uma das tendências mais promissoras. A par disso, a sensibilização dos clientes é crucial: informar, incentivar o cuidado com os produtos, criar sistemas de recolha e dar uma segunda vida aos óculos antigos são exemplos de medidas com impacto real, que tentamos implementar com a ajuda de instituições que aceitem estes produtos para distribuir junto de populações mais carenciadas ou de países onde o acesso a produtos óticos ainda não é fácil.
A transição para uma ótica mais verde é desafiante, mas possível. E como empresa portuguesa, temos a responsabilidade – e a oportunidade – de liderar pelo exemplo, mostrando que é possível unir qualidade, estética e consciência ambiental numa mesma lente.
