Artigo de Opinião Revista Millioneyes, Junho 2025
Roland Brodheim,
PCA do Grupo Brodheim
A sustentabilidade deixou de ser uma mera tendência para se afirmar como uma necessidade urgente e incontornável a nível global. Todos os sectores da economia, de forma directa ou indirecta, são hoje desafiados a repensar os seus processos, produtos e práticas. O mercado da óptica mundial não é excepção. Desde os fabricantes de lentes e armações até aos pontos de venda e distribuidores, existe um movimento crescente em direcção a práticas mais responsáveis, tanto do ponto de vista ambiental como social.
Tradicionalmente, a indústria óptica recorreu a materiais como o acetato, plásticos e metais, muitos dos quais têm um elevado impacto ambiental, quer na fase de produção, quer no momento do descarte. Nos últimos anos, a consciência acerca dos danos causados, especialmente pelos plásticos, aumentou consideravelmente. Um exemplo evidente é o descarte de óculos e lentes de contacto, que contribui para a acumulação de microplásticos nos oceanos, afectando gravemente os ecossistemas marinhos e, por consequência, a saúde humana. Em resposta a este cenário, muitas marcas internacionais começaram a apostar em alternativas sustentáveis, como acetato biodegradável, plásticos de origem vegetal, nylon reciclado e até armações fabricadas a partir de redes de pesca recuperadas do mar. Simultaneamente, assiste-se ao crescimento de modelos de produção circular, em que os óculos antigos podem ser devolvidos e reciclados para criar novos produtos, minimizando o desperdício e o consumo de recursos naturais.
No que diz respeito às lentes oftálmicas, também se notam avanços significativos. Os fabricantes procuram métodos de produção menos agressivos para o ambiente, reduzindo o uso de água e de produtos químicos. Algumas unidades industriais já operam com sistemas de reaproveitamento de água, que permitem reduzir substancialmente o consumo deste recurso essencial. Além disso, o desenvolvimento de lentes mais resistentes e duradouras contribui para uma menor frequência de substituição, reduzindo assim a pegada ecológica do consumidor.
Outro aspecto importante está relacionado com as embalagens. O uso de plásticos descartáveis está, progressivamente, a ser substituído por materiais recicláveis, reutilizáveis ou biodegradáveis. Em paralelo, a logística sustentável tem ganho destaque, com o recurso a veículos eléctricos, bicicletas para entregas urbanas, centros de distribuição localizados estrategicamente e outras soluções que permitem diminuir as emissões de carbono associadas ao transporte de produtos ópticos.
Para além da vertente ambiental, a sustentabilidade abrange também a responsabilidade social. O acesso à saúde visual é um direito fundamental, mas milhões de pessoas em todo o mundo continuam sem acesso a óculos ou a cuidados oftalmológicos básicos. Nesse sentido, várias marcas e organizações desenvolvem programas de doação, consultas comunitárias e acções educativas, contribuindo para melhorar a qualidade de vida de populações desfavorecidas, especialmente em países em desenvolvimento. Ao mesmo tempo, os consumidores estão cada vez mais atentos e exigentes, valorizando empresas que adoptam práticas éticas e transparentes. A rastreabilidade das matérias-primas, o respeito pelas condições laborais ao longo de toda a cadeia produtiva e o compromisso com a equidade são aspectos que influenciam directamente as decisões de compra. A inovação também desempenha um papel central neste processo de transformação. Tecnologias como a realidade aumentada permitem evitar a produção de amostras físicas desnecessárias, oferecendo experiências personalizadas com menor impacto ambiental. Modelos de negócio como o aluguer ou leasing de óculos começam a surgir como alternativas mais sustentáveis ao consumo tradicional.
Para garantir que as práticas sustentáveis não se resumem a estratégias de marketing, o sector óptico tem recorrido a certificações internacionais reconhecidas, como o selo FSC (para papel e madeira), a norma ISO 14001 (gestão ambiental) ou a certificação B Corp (que avalia o impacto social e ambiental de uma empresa). Estas certificações funcionam como garantia de que as empresas estão realmente comprometidas com a sustentabilidade.
O futuro do sector óptico está, inevitavelmente, ligado a esta mudança de paradigma. Regulamentações mais exigentes e consumidores mais conscientes pressionam as empresas a adoptarem práticas mais responsáveis. Por outro lado, a inovação tecnológica oferece soluções cada vez mais viáveis e eficazes: desde a impressão 3D com materiais reciclados, à produção sob procura, passando pela telemedicina em optometria, as possibilidades são vastas e entusiasmantes.
Em suma, a sustentabilidade deixou de ser um diferencial para se tornar uma exigência. A óptica, enquanto sector que cruza saúde, moda e tecnologia, tem uma oportunidade única para liderar este movimento e provar que é possível conciliar desempenho, estética e responsabilidade ambiental e social. O compromisso com um futuro mais equilibrado é, hoje, não apenas desejável, mas absolutamente indispensável.
*Artigo escrito ao abrigo do acordo ortográfico anterior a 1990.