Artigo Opinião ÓpticaPro, Setembro 2024
Margarida Barata
Vice-Presidente da Direção da AASO
OneSight EssilorLuxottica Foundation – Europe Programs Director
Segundo a Global Footprint Network, nos primeiros 7 meses do ano (até 1 de Agosto), a humanidade consumiu todos os recursos que a Terra tinha capacidade de regenerar durante o ano 2024; começamos, agora, a gastar as reservas de 2025!...
As alterações climáticas e a poluição atuam «lado a lado», lesando o ambiente, provocando efeitos nefastos no planeta, afetando todos e, muito em particular, os indivíduos das comunidades de parcos recursos.
Atuando o setor da ótica na melhoria da saúde visual das populações, numa altura em que os consumidores (nomeadamente os millennials e a geração Z) revelam uma preocupação acrescida com o impacto humano no ambiente, é fundamental que as empresas do setor – grandes e pequenas – se foquem na im- plementação, na prática, de procedimentos sustentáveis para com o planeta.
Os principais operadores industriais na fabricação de lentes oftálmicas, armações e lentes de contacto estão já entre as muitas empre- sas que lideram os esforços de sustentabilidade ambiental, com inúmeras iniciativas que vão da reciclagem a metas de neutrali- dade de CO2 (…). Contudo, há ainda um longo caminho a percorrer...
Procurando ir mais longe, os líderes da indús- tria de ótica trabalham para responder ao de- safio lançado pela ONU, aplicando a estratégia ESG (Environmental, Social and Governance), a qual preconiza linhas de orientação para um desenvolvimento sustentável, agregando o desenvolvimento económico, a conserva- ção da natureza e a redução da desigualdade. Resumidamente, a estratégia ESG assenta so- bre os seguintes pilares:
E - Environmental (Ambiente) – compromisso para com a sustentabilidade ambiental - analisa a energia e os recursos necessários para o bom funcionamento da empresa (energia consumida, gestão de resíduos, mudanças cli- máticas e emissões de carbono, etc.);
S- Social – (Responsabilidade Social) – foco na análise das relações da empresa com a comunidade em que se insere e com os seus colaboradores, com especial atenção na diversidade e na inclusão (reputação alcançada junto de pessoas, instituições, relações laborais, etc.);
G- Governance (Governação corporativa) - princípios de boa governação empresarial - transparência com que a empresa se organiza internamente (procedimentos, controlo, combate à corrupção, etc.), fiabilidade da informação para tomada de decisões, cumprimento da lei e satisfação das necessidades de parceiros externos. Segundo o IAPMEI, neste momento, a estratégia ESG é somente obrigatória para grandes empresas cotadas, mas prevê-se o alargamento progressivo a outras de menor dimensão.
Por estarem em contacto mais próximo e direto com os consumidores, é nas pequenas e médias empresas, nomeadamente do setor da ótica, que reside um potencial determinante no fazer a diferença positiva a nível social e ambiental junto da população que as rodeia.
As empresas ao adotarem uma gestão imbuída da estratégia ESG, além de beneficiarem o meio ambiente e a sociedade onde se inse- rem, geram, para si próprias, outros benefícios significativos, a médio e longo prazo:
- Aumento do reconhecimento da empresa - o bom nome e a reputação são dois dos bens mais preciosos de uma empresa.
- Redução de custos operacionais - a imple- mentação de medidas como eficiência energética e gestão sustentável de recursos vai, a médio prazo, reduzir despesas operacionais.
- Acesso a investidores - a transparência nas práticas ambientais, sociais e de gover- nação atrai investidores, que minimizan- do riscos, procuram investir em empresas sustentáveis.
- Atração e retenção de colaboradores com talento – acréscimo de motivação e de sentimento de pertença dos colaboradores que se identificam com o modus operandi da empresa, ao sentirem que estão a contribuir para um mundo melhor.
- Conformidade legal - ao adotarem uma abordagem proativa em relação a questões ambientais e sociais, as empresas conse- guem identificar e mitigar riscos.
- Diferenciação competitiva e inovação - os consumidores afirmam ter mais confiança em e lealdade para com empresas que são ambiental e socialmente responsáveis, (sendo até capazes de boicotar empresas/marcas com práticas pouco responsáveis).
- Mudar o mundo para melhor – para além do foco no lucro, as empresas não sobrevivem isoladas, pelo que, ao assumirem um compromisso de bem-estar para com a comunidade que os rodeia, estão a criar impacto positivo no mundo.
O Planeta é de todos, cabe a cada um de nós cuidar dele da melhor forma! As empresas, em particular, têm uma responsabilidade acrescida na prossecução desse objetivo!
A AASO (Associação de Apoio à Sustentabi- lidade da Óptica), que desenvolve a sua ati- vidade em prol da sustentabilidade do setor, atribui o SELO DE SUSTENTABILIDADE que, nas óticas aderentes, assegura ao consumi- dor estar perante uma ótica comprometida com o CRR – Círculo de Recolha de Resíduos.
Qual a relação entre sustentabilidade e saúde visual?
Sustentabilidade e cuidados com a saúde visual interrelacionam-se de modo complexo. As mudanças climáticas, a poluição, a pobreza e a fome são fatores que impactam significativamente a saúde visual. As populações financeiramente carenciadas, na maioria dos casos, têm um acesso precário aos cuidados de saúde (nomeadamente a um exame visual). Muitas vezes, por não terem uma alimentação adequada, podem desenvolver doenças e deficiências em diversos níveis, incluindo o visual, situação particular- mente grave nas crianças. Segundo a OMS - - Organização Mundial de Saúde, 9 em cada 10 pessoas vivem numa atmosfera com ta- xas de poluentes acima das recomendadas (aplicável à Europa)!
Não dispensando uma conversa com os es- pecialistas em saúde visual, para uma abordagem técnica e científica sobre estes te- mas, só como alerta, recorda-se que:
• Altas temperaturas e baixa precipitação estão associadas a um aumento na infeção por Tracoma (a conjuntivite crónica já afeta 157 milhões de pessoas em África);
• Exposição a gases tóxicos, como o dióxido de carbono e o enxofre, pode provocar conjuntivites e outras doenças inflamatórias;
• Inundações e secas que afetam as colheitas levam a alterações do padrão alimentar. A menor ingestão de vitamina A pode gerar o aumento da xeroftalmia (ressecamento dos olhos), cegueira noturna e/ou situações graves como úlceras corneanas…;
• O aumento da exposição a poeiras e a climatização podem levar ao desenvolvimento ou agravamento de secura ocular, uveíte…;
• Uma exposição a níveis elevados de poluição atmosférica pode acelerar o Glaucoma (Moorfields Eye Hospital - 2019) e a DMLA
- Degenerescência Macular Ligada à Idade (BMJ - jan 2021);
Muitos pequenos gestos podem fazer uma grande diferença – coloque na sua ótica os recipientes de recolha de óculos e lentes de contacto que a AASO (Associação de Apoio à Sustentabilidade da Óptica) criou e incentive quem o/a rodeia a utilizá-los!