ARTIGOS ESG & ÓPTICA

NUNO RAMA: O IMPACTO DOS ROUBOS E FURTOS NAS LOJAS DO SETOR DA ÓTICA

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NUNO RAMA: O IMPACTO DOS ROUBOS E FURTOS NAS LOJAS DO SETOR DA ÓTICA

Artigo de Opinião ÓpticaPro, Novembro de 2024

Nuno Rama

Secretário de Direção da AASO

Assistente de Direção na Optocentro


Frequência de Mestrado em Estratégia de Investimento e Internacionalização no ISG

Os furtos e os roubos no retalho da ótica são uma realidade muito pouco divulgada e afetam a sustentabilidade financeira das empresas. Recorrentes e premeditadamente feitos por grupos organizados, impactam negativamente no desempenho das equipas, nos objetivos, na viabilidade das organizações e na confiança dos empresários. O modo como esse impacto é sentido na atividade empresarial depende de vários fatores. Em primeiro lugar, é deveras interessante compreender que, apesar de aparentemente sinónimos, os conceitos furto e roubo, à luz da linguagem jurídica, são diferentes. De uma forma mais entendível e sem complicações, podemos dizer que o roubo ocorre com a ameaça e violência, como por exemplo, através de um assalto com uma arma. Ao invés, o crime de furto é descrito como subtração, ou seja, diminuição do património ou bem de uma pessoa ou entidade, sem que haja violência. Tomemos como exemplo a Optocentro, ótica que durante 40 anos desenvolveu a sua atividade comercial em Lisboa, num pequeno rés-do-chão, cuja principal função era a entrada para o primeiro e segundo andar, aonde aí desenvolvia o grosso da sua atividade comercial. A pouca visibilidade do exterior funcionou como um filtro à entrada de pessoas, reduzindo a exposição à cobiça. Recentemente, tendo surgido a oportunidade de adquirir uma loja de maior dimensão no rés-do-chão, cuja área ampla permitiu absorver toda a operação que tinha, mudou de instalações. Com uma generosa frente de exposição para a rua, entre outras mais-valias indiscutíveis, estavam criadas as condições para mais uma etapa evolutiva do nosso negócio. Todavia, rapidamente despertámos para o interesse que criava aos “amigos do alheio”. Ali, e dada a forma como expomos alguns dos nossos artigos, identificaram uma oportunidade para a manutenção do seu modo de vida. Efetivamente, a Optocentro tem-se confrontado com uma realidade até então inaudita, vendo-se obrigada a adotar e reforçar uma série de medidas, que passam pelo incremento da formação de colaboradores, antenas de alarme mais potentes, a colocação de alarmes em todos artigos, videovigilância, entre outros. Infelizmente, das seguradoras podemos esperar muito pouco. Escudadas que estão pelas coberturas base das apólices, que não contemplam na sua generalidade nenhuma das ações de furto e que incluem apenas roubos com coação ou violência junto dos colaboradores. A exceção são o arrombamento de portas ou montras com consequente roubo de artigos. Assim, qualquer participação à PSP, que inclui a legal entrega das imagens de videovigilância das ocorrências, dará origem a um processo que resultará posteriormente numa participação à seguradora e que, quase sempre, por parte desta, redundará num não pagamento de qualquer indemnização. Ponderada a requisição de serviços remunerados das forças de segurança fora do seu horário de trabalho (também conhecidos como gratificados), a falta de efetivos exclui de imediato esta possibilidade. O roubo em óticas é uma realidade preocupante, tanto para os negócios quanto para os funcionários. Os estabelecimentos que comercializam produtos de alto valor e marcas conceituadas, como óculos de grife, ouro, entre outros, são frequentemente alvos de criminosos. Como referido anteriormente, os roubos tanto podem ocorrer durante o horário de funcionamento (tentando os indivíduos a subtração de artigos em momentos de maior tráfego de clientes em loja e onde a atenção dos colaboradores é diminuta), como em assaltos de forma mais violenta, recorrendo a armas, ou até invasões noturnas, quando os ladrões arrombam as montras, paredes e portas de entrada das lojas para levar mercadorias. Para os funcionários, esses crimes geram um ambiente de trabalho inseguro e stressante. Associado ao medo constante de assaltos, os problemas de saúde mental podem aumentar, afetando direta e negativamente a produtividade e a satisfação no trabalho. Em casos de assaltos à mão armada, o risco de violência física é agravado, podendo resultar em traumas duradouros. Para o negócio, o impacto financeiro é significativo. Há perdas diretas de artigos óticos que podem chegar a milhares de euros, há custos adicionais na reparação de danos nos estabelecimentos com consequentes aumentos de prémios de seguros e a necessidade de investir em sistemas de segurança mais robustos. Paralelamente, a possível repetição de roubos tende a levar a uma diminuição da confiança dos clientes que, ao sentirem-se inseguros, deixam de frequentar a loja, resultando diretamente numa quebra das vendas. Este tipo de criminalidade elevada afeta a perceção de segurança na comunidade, desencoraja investimentos em novas lojas ou a expansão de negócios existentes. Em suma, os roubos em óticas criam um ciclo de insegurança e prejuízos que afetam tanto o mercado local quanto a economia como um todo. Evitar roubos no setor das óticas requer uma combinação de medidas preventivas, formação específica para esta realidade, tecnologia e cooperação entre empresários e associações do setor. Embora concorrentes no negócio, deverão as óticas conjugar esforços com vista a um objetivo comum: a segurança do setor. Em conclusão, referimo-nos à Sustentabilidade Financeira como a capacidade de uma empresa gerar recursos suficientes para sustentar as suas operações. Há quem defenda que essas operações se referem apenas àquelas de curto prazo. No meu entendimento, Sustentabilidade é em si mesmo um conceito que se mede “ad aeternum” e, nessa medida, a Sustentabilidade Financeira deve, obviamente, ser medida também a longo prazo. De entre essas operações, há um conjunto de atividades económicas, de gestão e de boas práticas de governance, que incluem aspetos tão diversos como o controlo de custos, os fluxos de caixa, o planeamento a longo prazo, etc. A adoção de práticas para evitar roubos internos, como desvio de dinheiro, fraude ou o roubo de mercadorias e informações que afetam diretamente a sustentabilidade financeira de uma empresa, a moral dos funcionários e a confiança entre equipas, devem também estar incluídas na gestão empresarial. A sua não inclusão pode fatalmente determinar um prejuízo para a produtividade e ambiente interno. Para mitigar este impacto, as empresas podem ainda adotar práticas tão diversas como auditorias regulares que ajudam a identificar anomalias, capacitar os colaboradores para reconhecer e relatar comportamentos suspeitos e ainda promover uma cultura empresarial baseada em ética e responsabilidade, que se traduzirão na redução do risco de comportamentos desviantes. Estes tipos de medidas combinadas podem ajudar a preservar a saúde financeira da empresa, garantindo a sua competitividade e sustentabilidade no mercado da ótica.

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