Artigo de Opinião ÓpticaPro, Agosto 2024
Nuno Rama
Secretário de Direção da AASO
Assistente de Direção na Optocentro
Frequência de Mestrado em Estratégia de Investimento e Internacionalização no ISG
O conceito de coopetição e a sua aplicabilidade têm sido alvo de um interesse crescente e generalizado, não só na comunidade científica e académica como também no universo empresarial. Sendo que a literatura científica é ainda relativamente escassa e o fenómeno pouco estudado, não há uma definição única para coopetição, incorporando esta temas muito fragmentados e conceitos pouco desenvolvidos. Ainda assim, e apesar da falta de homogeneidade, há um consenso quase absoluto em relação a um aspeto: a simultaneidade de ações de cooperação e de competição entre duas ou mais empresas do mesmo setor de atividade num determinado momento do tempo. Escrito isto, quem disse que empresas do mesmo setor não podem ser aliadas e os ganhos gerados serem imensos? Na realidade, não há barreiras nem fronteiras quando o objetivo é crescer.
A coopetição tem sido debatida entre académicos como uma estratégia para potenciar a competitividade e pode simultaneamente ser um instrumento de sobrevivência para micro (podemos situar aqui o retalho ótico), pequenas e médias empresas, nomeadamente pela internacionalização e pela resposta ao mercado através da inovação de produtos e de processos. No entanto, existem fatores inibidores de coopetição que estão ainda pouco estudados, particularmente entre as industriais. Para além das motivações puras do negócio, sendo talvez as mais importantes a partilha de recursos escassos, a redução de custos e a repartição dos riscos de inovação no desenvolvimento de processos e produtos para resposta a solicitações de mercados de consumo cada vez mais dinâmicos, a capacidade de influenciar, criar e impor novos standards de indústria ou a de penetração em novos mercados, existem outros fatores motivadores externos relevantes, como a exigência de clientes ou a pressão das políticas económicas. Lato sensu, em termos de resultados, estes parecem ser mais relevantes em setores próximos da economia do conhecimento e menos em setores fabris mais convencionais.
A coopetição tem as suas raízes na teoria dos jogos e é bastante comum entre as grandes corporações, devendo ser sempre produto de um desejo comum de colaborar com um ou mais concorrentes, no sentido de aumentar a competitividade do conjunto, podendo ajudar rivais a explorar interesses estratégicos comuns, com ganhos mútuos e alavancando os resultados. Apesar de ser um conceito complexo e dinâmico, que pode ser visto como paradoxal e potencialmente gerador de tensões difíceis de gerir, há, como foi dito atrás, um consenso alargado sobre os benefícios do conceito, sendo uma importante opção estratégica em vários setores, mercados, cadeias de valor e domínios tecnológicos.
E de que forma pode o conceito da coopetição ser potenciado ao nível da sustentabilidade? Sendo a sustentabilidade um conceito multifacetado que abrange questões ambientais, sociais e económicas, tanto a cooperação como a competição podem desempenhar papéis importantes, cada qual com as suas próprias vantagens e desvantagens. Focando-nos nas vantagens competitivas, podemos apontar as sinergias criadas, a partilha de recursos, a cooperação entre empresas, governos, academia e organizações governamentais e não governamentais, como delas podendo resultarem soluções mais eficientes e inovadoras para os problemas ambientais.
Através de parcerias e colaborações, as empresas podem ainda reduzir os desperdícios e otimizar o uso de materiais e energia. Por exemplo, um subproduto de uma indústria pode ser matéria-prima para outra, promovendo a economia circular. A cooperação pode também levar à criação de padrões e uniformização de certificações, que ajudam e incentivam a promoção de práticas sustentáveis e, com isso, podem ajudar a regular e melhorar o desempenho ambiental de um setor. Neste âmbito, regulamentações e padrões de qualidade, tanto nacionais quanto internacionais, são fundamentais para garantir a confiança do cliente e a credibilidade do mercado.
Do mesmo modo, a cooperação pode facilitar o investimento conjunto em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias sustentáveis que, representando custos elevados, se podem traduzir num investimento arriscado para ser financiado por uma única entidade. Por sua vez, a concorrência pode impulsionar as empresas a inovarem e encontrarem maneiras mais eficientes de operar, reduzindo o uso de recursos e diminuindo o impacto ambiental. As empresas que competem para se tornarem mais sustentáveis podem descobrir maneiras de reduzir custos operacionais através de práticas mais verdes, como a eficiência energética e a minimização de resíduos.
A sustentabilidade pode ainda ser um diferencial competitivo, na medida em que empresas que adotam práticas sustentáveis podem atrair consumidores conscientes e melhorar sua reputação no mercado, traduzindo-se este ponto como um diferencial competitivo. Como desvantagens, no campo da cooperação, nomeadamente se esta for excessiva, encontramos riscos de inércia entre as partes envolvidas, tornando-se as mesmas complacentes e menos propensas à adoção de mudanças rápidas ou inovadoras. Do mesmo modo, a desigualdade de recursos entre empresas, e logo no investimento alocado à sustentabilidade, pode originar disparidade entre as empresas e simultaneamente na gestão da cooperação, que se pode tornar complexa devido à necessidade de alinhamento de interesses que até poderiam ser iguais.
Em resumo, uma abordagem mais eficaz para a promoção da sustentabilidade pode envolver uma combinação entre cooperação e competição. As empresas do ramo podem colaborar em áreas onde há benefícios mútuos, como pesquisa e desenvolvimento de tecnologias limpas, enquanto competem em áreas como a eficiência operacional e a redução de custos.