A ÓpticaPro entrevistou os elementos integrantes da equipa de apoio à direção da AASO, Inês Motty e Nuno Rama, e lançou-lhes algumas questões acerca de uma das mais nobres iniciativas criadas pela associação.
Como surgiu a parceria entre a AASO e o CADIn?
Nunca tanto como hoje, a promoção e inclusão na sociedade e no mercado de trabalho de pessoas com necessidades especiais se revela uma urgência, para não dizer uma obrigação. O CADIn, Neurodesenvolvimento e Inclusão, trabalha com crianças, jovens e adultos com alterações do neurodesenvolvimento, problemas comportamentais ou emocionais, ajudando-os a superar as dificuldades na aprendizagem, na comunicação, na interação social, entre outras. Realiza ainda um trabalho fantástico apoiando as suas famílias, escolas e entidades empregadoras, para que estas aprendam a ajudá-los a alcançar todo o seu potencial, intervindo, se necessário, ao longo de todo o ciclo da vida. Assim, atuando neste sentido muito específico da inclusão e equidade, a parceria com o CADIn surge com toda a naturalidade, visando sensibilizar os nossos associados e todas as empresas ligadas ao ecossistema da ótica para a contratação de pessoas neuroatípicas.
Que tipo de oportunidades de trabalho são oferecidas pelo programa?
A Bolsa de Emprego Inclusiva visa promover a inclusão e integração no mercado de trabalho da ótica. A AASO serve de mediadora entre a empresa contratante e o candidato. A criação do posto de trabalho compete à empresa contratante, que sensível ao nosso “apelo” decide proporcionar uma oportunidade de trabalho adaptado ao perfil do candidato.
Qual é o processo de identificação e promoção dessas oportunidades?
Após a criação do posto de trabalho, o CADIn é contactado e oferece suporte adicional durante o processo de seleção dos candidatos. De acordo com a legislação vigente em Portugal, o processo de seleção deve ser adaptado ao perfil de comunicação e expressão de cada candidato. Durante esta fase, o CADIn trabalha em estreita colaboração com os empregadores para os consciencializar sobre as perturbações do neurodesenvolvimento, esclarecendo-os e promovendo todos os ajustamentos necessários no processo de seleção. Simultaneamente, apoiam os candidatos na preparação das entrevistas de emprego, o que poderá incluir treino simulado repetido e a utilização da estratégia pedagógica de autoscopia. Se necessário, acompanham os candidatos durante as entrevistas de seleção para garantir que eles tenham todo o suporte necessário.
Quais são os principais desafios enfrentados na inclusão de jovens neuroatípicos no mercado de trabalho? Os desafios passam indubitavelmente por sensibilizar as entidades para a mais-valia da contratação de uma pessoa neuroatípica. Continuam a existir estigmas e tabus que há que desmontar. As consciencializações sobre as perturbações do neurodesenvolvimento são fulcrais para o esbater dessa existência. Estas pessoas, bem integradas, além de colocarem em prática as capacidades produtivas na sua plenitude, contribuem simultânea e indelevelmente para a criação de um conjunto de sinergias no grupo de trabalho, que sensíveis à sua neurodivergência as apoia especialmente, traduzindo-se este facto num ambiente de trabalho mais humanizado.
Como é feito o acompanhamento destes jovens? Como se mede o impacto do programa na vida dos participantes? O CADIn efetua visitas regulares ao local de trabalho para avaliar o progresso na integração, identificar eventuais desafios e colaborar na procura de soluções. As visitas são adaptadas conforme as necessidades do funcionário e das empresas, sendo estas mais ou menos frequentes dependendo de situações de crise e de fases mais ou menos estáveis de integração. É selecionado um tutor/mentor que planeia as atividades, apoia, forma e avalia, dando feedback ao colaborador com perturbações do neurodesenvolvimento e são identificados os ajustamentos razoáveis ao seu posto de trabalho.
Existem planos no futuro próximo para expandir o programa?
Este programa está assente em padrões de inclusão no emprego. Sabemos que existem outro tipo de transtornos, perturbações, deficiências intelectuais ou físicas com características semelhantes e que precisam deste tipo de iniciativas e divulgação. É nossa ambição contribuir para a transformação da nossa sociedade, incluindo neste programa jovens com Síndrome de Down, Síndrome de Tourette, Dislexia, Disgrafia, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Bipolaridade, entre outros.